nathalia bezerra é alagoana, nascida em maceió (1997) e o sentimento de mundo em delmiro gouveia, onde mora atualmente. fotografa, tenta bordar e escreve na revista alagoana e na revista mormaço. estuda literatura, psicanálise e escreve pra tentar dar nome às coisas. publica alguns textos no medium e algumas experimentações no instagram.
três tempos para desaparecer
não é de lampejo que se faz
a órbita dos vôos terrestres
(antes de ir: tire teus calçados)
não há resquício
de regresso
nas amarras do corpo
sou eu lentamente
procurando por abismo
engolida pelas minhas
próprias mãos
não se escuta
o buraco do peito
só porque a escrita
existe ir embora
desse mundo
(alçar vôo)
segredos aos invertebrados
é uma goteira
o limiar da dor
vacilações e falhas
geográficas
se me digo pedra, sou
defeituosa
aberta aos vincos
quem te ensinou a fazer bicho
com teus dentes
escritos, viram carne
não pergunte
da minha pressa em morder
quantas vezes
você me disse terra
enquanto derretia
(nenhuma)
do contrário
nos ausentaríamos
cartografia das ruínas ao desejo
I.
se é de memória
que se fazem os mapas
ainda não inventaram formas
de incendiar quilômetros
desejo é essa
cartografia sem destino
que só acontece no
intervalo de abismos
não-descobertos
II.
uma vez me disseram que
escrever é bruto demais
nada é delicado nesse
bater de pedra
III.
canção de volta
é não encontrar canto
são sem destino as palavras
e eu também
te vejo tirando as
peles com tuas unhas quando
escreve mas isso é muito bruto,
não me diga que é
com pele que se faz
um texto, já te disse:
é batendo pedra
Foto de Anna Carolina Rizzon.